O Instituto Nacional de Meteorologia (INAM) e a Oxfam defenderam este sábado, 20 de setembro, em Maputo, a necessidade de intensificar as medidas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas e de reforçar a cobertura mediática sobre o tema, sob pena de Moçambique enfrentar impactos cada vez mais severos. O apelo foi feito durante uma mesa redonda sobre o papel dos meios de comunicação social como catalisadores da agenda climática moçambicana.
O representante do INAM, Bernardino Nhantumbo, alertou que a ciência já confirma, com 95 por cento de certeza, que as actividades humanas são a principal causa do aquecimento global desde meados do século XX. “Estamos a observar um aumento significativo da temperatura média anual, mais dias e noites quentes, períodos prolongados sem chuva e uma frequência maior de ciclones tropicais”, afirmou.
Nhantumbo salientou que Moçambique é um dos países mais vulneráveis aos impactos climáticos, registando subida do nível médio do mar acima da média global, o que ameaça cidades costeiras e comunidades pesqueiras. “Se não investirmos agora em adaptação, teremos maiores perdas económicas, destruição de infra-estruturas e aumento da pobreza”, advertiu.
O especialista apresentou ainda projecções que indicam um aumento da temperatura entre 1,5°C e 3°C até 2050 e uma tendência de redução de precipitação no centro e sul do país, o que poderá agravar a insegurança alimentar. Para mitigar esses riscos, defendeu o fortalecimento dos sistemas de aviso prévio e das redes de observação meteorológica, de forma a proteger melhor as comunidades vulneráveis.
Por seu turno, o representante da Oxfam em Moçambique, Romão Xavier, sublinhou o papel crucial dos meios de comunicação social na promoção da justiça climática. “As alterações climáticas são o maior problema da história da Humanidade”, disse, alertando que o aquecimento global está a agravar a escassez de água, a provocar secas mais severas e a ameaçar a biodiversidade.
Xavier destacou que África é responsável por apenas 3 a 4% das emissões globais de gases com efeito de estufa, mas é o continente mais afetado pelos impactos climáticos. “Os países ricos são responsáveis por 37% das emissões globais e, mesmo assim, enviam apenas conta-gotas de apoio para apagar o incêndio que eles próprios provocaram”, criticou, apelando a que estas nações assumam a responsabilidade pelos danos causados e financiem adequadamente a ação climática nos países mais vulneráveis.
O representante da Oxfam defendeu que os jornalistas podem ter um papel decisivo ao “moldar a opinião pública, impulsionar a ação política e reforçar a transparência e a responsabilização” sobre os recursos destinados ao combate às mudanças climáticas. “Os órgãos de comunicação social são peças-chave para impulsionar a transição justa e promover a justiça climática no país”, acrescentou.
A mesa redonda foi organizada pela Oxfam em parceria com a Plataforma Nacional das OSC sobre Mudanças Climáticas (PNOSCMC) e o Instituto Multipartidário e Democrático (IMD), com o objetivo de explorar o papel dos meios de comunicação como catalisadores da agenda nacional de alterações climáticas.
A co-organização do IMD neste evento decorre da implementação do projecto “reforçando o papel de Fiscalização do Parlamento e das assembleias provinciais na governação das mudanças climáticas e indústria extractiva”, financiado pelo Ministério Finlandês dos Negócios Estrangeiros, através da Demo Finland.